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O Webinário de abril de 2025, teve como tema “No Mistério da Paixão à Ressurreição, nos colocamos no Caminho da Esperança.” O evento aconteceu no dia 08 de dezembro às 20h (horário de Brasília), terça-feira. A live foi transmitida pelo nosso canal no YouTube: www.youtube.com/mfcbrasil

Felizes por estar junto de vocês!

Poema declamado no Webinário:

“A Esperança”

A caridade, diz Deus, isso não me espanta.
Isso não é espantoso.
Essas pobres criaturas são tão infelizes que a não ser
que tivessem um coração de pedra, como não
haveriam de ter caridade umas para com as outras.
Como não haveriam de ter caridade para com seus irmãos.
Como é que eles não haviam de tirar o pão da boca,
o pão de cada dia, para dá-lo a desgraçadas
crianças que passam.
E meu filho teve para com eles uma tal caridade.
Meu filho irmão deles.
Uma tão grande caridade.

Mas a esperança, diz Deus, eis o que me espanta.
A mim mesmo.
Isso é espantoso.
Que essas pobres crianças vejam como tudo isso acontece
e acreditem que amanhã vai ser melhor.
Que vejam como isso acontece hoje e acreditem que vai
ser melhor amanhã cedo.
Isso é espantoso e é mesmo a maior maravilha da nossa
graça.
E eu mesmo me espanto com isso.
E é preciso que de fato minha graça seja de uma força
incrível.
E que ela escorra de uma fonte e como um rio
inesgotável.
Desde aquela primeira vez que ela escorreu e escorre
sempre desde então.
Na minha criação natural e sobrenatural.
Na minha criação espiritual e carnal e ainda espiritual.
Na minha criação eterna e temporal e ainda eterna.
Mortal e imortal.
E aquela vez, ó aquela vez, desde aquela vez que
ela escorreu. Como um rio de sangue, do flanco
trespassado de meu filho.
Qual não deve ser a minha graça e a força da minha
graça para que essa pequena esperança, vacilante
ao sopro do pecado, trêmula a todos os ventos,
ansiosa ao menos sopro.
seja tão invariável, mantenha-se tão fiel, tão reta,
tão pura; e invencível, e imortal , e impossível
de apagar-se; que essa pequena flama do
santuário.

Que queima eternamente na lâmpada fiel.
Uma chama tiritante atravessou a espessura dos mundos.
Uma chama vacilante atravessou a espessura dos tempos.
Uma chama ansiosa atravessou a espessura das noites.
Desde aquela primeira vez que a minha graça escorreu
para a criação do mundo.
Desde então que a minha graça escorre sempre para a
conservação do mundo.
Uma chama impossível de se alcançar, impossível de se
apagar ao sopro da morte.

O que me espanta, diz Deus, é a esperança.
E fico pasmo.
Essa pequena esperança que parece uma cousa de nada.
Essa pequena esperança.
Imortal.
Porque as minhas três virtude, diz Deus.
As três virtudes minhas criaturas.
Minhas filhas minhas crianças.
Elas próprias são como as minhas outras criaturas.
Da raça dos homens.
A Fé é uma Esposa fiel.
A Caridade é uma Mãe.
Uma mão ardente, cheia de coração.
Ou uma irmã mais velha que é como uma mãe.
A Esperança é uma meninazinha de nada.
Que veio ao mundo no dia de Natal do ano passado.
Que brinca ainda com o boneco de neve.
Com seus pinheirinhos de madeira da Alemanha.
Pintados.
E com seu presépio cheio de palha que os animais não
comem.
Porque elas são de madeira.
Entretanto é essa meninazinha que atravessará os
mundos.
Essa meninazinha de nada.
Ela só, levando os outros, que atravessará os mundos
volvidos.

Charles Péguy