UM PONTO FORA DA CURVA
Os meios de comunicação estão repletos de notícias sobre o Cardeal Arns. Sua morte reavivou o que todos sabíamos a seu respeito mas nos esquecêramos pela sua retirada de cena a que se submeteu. Para defini-lo, deveríamos em primeiro lugar dizer que ele foi um homem de fé, que abraçou tudo o que Jesus queria ver em seus seguidores: busca da justiça social, amor ao próximo particularmente aos pobres e humildes, intrepidez na defesa dos mais fracos.
Logo de início, deu exemplo de desprendimento, passando à frente o palácio episcopal, aplicando o dinheiro em creches e escolas da periferia.
O Cardeal de São Paulo já trabalhava em sintonia com o Cardeal de Buenos Aires, hoje Papa Francisco. Ambos grandes apóstolos e amigos de Cristo, cujas pegadas eles sempre souberam seguir; dois cardeais da periferia, amigos e defensores dos pobres e dos trabalhadores.
Dom Evaristo Arns opôs-se à ditadura militar, combatendo as injustiças sociais viessem de onde viessem e travando discussões acirradas com um dos presidentes-generais em pleno palácio presidencial. Poderíamos denomina-lo Cardeal-Coragem. Foi o grande contraponto à ditadura em defesa da liberdade e da democracia.
Em jornal de hoje, frei Betto conta o ocorrido quando do caso Herzog, “suicidado” na prisão: “Dom Paulo decidiu celebrar missa solene na Catedral da Sé em homenagem a ele (W. Herzog). Judeus que apoiavam a ditadura tentaram demover o cardeal: Por que missa para Herzog? Era judeu!”. Dom Paulo respondeu: “Jesus também”.
O livro “ Brasil: nunca mais ‘ é uma radiografia fiel da ditadura militar. O livro foi publicado graças a Dom Paulo e ao pastor Jaime Wright.
Explicando, se necessário, o subtítulo deste escrito – Um ponto fora da Curva – é de se desejar cristãos semelhantes a Dom Paulo, leigos e, sobretudo, hierarcas de nossa Igreja. Que Deus suscite também mulheres cristãs como a irmã de Dom Paulo, dona Zilda, criadora juntamente com o irmão Cardeal da Pastoral da Criança e que morreu em terremoto no Haiti quando falava a cristãos daquele país.
Terminamos este escrito com as palavras do sobrinho do Cardeal Arns, Nelson Arns Neumann, coordenador adjunto da Pastoral da Criança: “Nestes últimos dias, ele (o cardeal Arns) nos falou muito que a criança é o centro de tudo, que nós devíamos cuidar das crianças e que os país precisava tê-las como centro de sua atenção”. Nós mfcistas devemos sentir-nos tocados com essa fala de Dom Arns, proferidas já no final de sua vida, sobre o que é objeto de nossa missão e cuidados – a família – hoje cercada de tantos perigos.