Vem aí o IV Festival Nacional de Arte e Cultura do MFC entre os dias 19 e 21 de julho em São Luís do Maranhão. Esse ano, o tema será: “Casa do povo, casa do pão…no chão do João: MFC em ação.”, e o homenageado é João do Vale.
A vida e a obra de João Do Vale – o homenageado do IV Festival de Arte e Cultura do MFC
Acontecerá em São Luís, no Maranhão, entre os dias 19 a 21 de julho, o IV Festival de Arte e Cultura do MFC. Um momento de celebração, encontros, partilhas confluentes e de formação conjunta para o MFC Nacional. Teremos como homenageado nesta edição o compositor maranhense João do Vale (1933 – 1996).
João Batista do Vale é um retirante nordestino. Nasceu em Lago da Onça, em 11 de outubro de 1933. Na época um povoado localizado a aproximadamente seis quilômetros da cidade de Pedreiras, no interior do Maranhão, onde, ainda menino vai para São Luís, em 1947. Sempre buscando melhores dias, João sai de São Luís sem o conhecimento dos pais, em direção a Teresina, no Piauí, até chegar no Rio de Janeiro, depois de uma longa viagem por vários estados, como Bahia e Minas Gerais. Finalmente, ao chegar na cidade do Rio de Janeiro, vai trabalhar como assistente de pedreiro, na construção civil, como tantos outros nordestinos migrantes nas décadas de 1950 e 1960. Mas João tinha um horizonte em sua jornada. Ele queria que suas músicas ficassem conhecidas e que alguém de renome pudesse gravá-las. Ele sentia o desejo de se tornar um grande compositor da Música Popular Brasileira. E esse sonho se tornou real em 1953, nas vozes de Zé Gonzaga (irmão do “rei do baião”, Luiz Gonzaga), que gravou o baião “Madalena” e da cantora Marlene, que interpretou “Estrela Miúda”.
Com a intensa repercussão de suas composições e do reconhecimento público de seu talento, suas canções ficaram eternizadas nas interpretações de grandes nomes da MPB, como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Nara Leão, Maria Bethania, Chico Buarque, Gilberto Gil, Alcione, Clara Nunes, Amelinha, Alceu Valença, Caetano Veloso, Zé Ramalho, Gonzaguinha e tantos outros.
Os temas de suas músicas falam da história de um povo sofrido, no sertão nordestino, que sente a pulsação da vida de modo intenso e poético, superando as agruras da fome, da ausência de oportunidades, da exclusão social, da terra mal repartida…
A cidade de Pedreiras, no interior do Maranhão, carregada de memórias e afetos, foi uma de suas grandes inspirações. Mesmo depois da fama e de ter fixado residência no Rio de Janeiro, João fazia questão de sempre voltar à sua terra natal para rever familiares e amigos de infância. João do Vale traz em sua obra uma profunda leitura social da terra natal, dos amores, de seus amigos, embora nunca tivesse, em sua carreira artística, expressado uma posição política partidária. Exemplos de canções na obra de João de Vale que expressam uma fecunda poética libertária, com singular profundidade social: “Minha história”, “Carcará”, “Ouricuri”.
João também cantou as belezas de sua terra originária. Sua memória afetiva esteve sempre viva, expressando em sua intuição poética uma relação de pertencimento com o chão de sua terra. O Maranhão sempre permaneceu muito vivo em suas cantorias pelo Brasil afora. A sua conterrânea, a cantora Alcione, interpretou uma de suas mais belas composições, “Todos cantam sua terra”, cuja letra retrata a sua intensa relação afetiva com as belezas da terra natal.
A sensibilidade do poeta maranhense também aflorou em temas ligados ao amor de modo criativo e subliminar. São as conhecidas músicas de “duplo sentido”, que tanto ressoou no imaginário da cultura popular. São canções que fizeram de João do Vale um compositor aclamado por plateias de todo Brasil. Algumas de suas mais conhecidas canções de sentido subliminar foram: “Pisa na fulô”, “Peba na Pimenta” e “Pipira”.
A música de João do Vale teve ressonância nacional e continua a inspirar gerações de compositores.
Além de desempenhar um fundamental movimento de arte popular a partir de um cenário repressivo e autoritário, sobretudo quando se consolidou como um dos principais expoentes da MPB no período da ditadura civil militar (1964 – 1985).
O show-manifesto “Opinião”, dirigido pelo dramaturgo carioca Augusto Boal, estreou em 11 de dezembro de 1964, no teatro do Schopping Center Copacabana, sede do Teatro de Arena, no Rio de Janeiro, e constitui um marco neste cenário histórico. Ao lado de artistas como Nara Leão, Zé Keti, Maria Bethania, Augusto Boal, Chico Buarque, João do Vale figura como um dos maiores expoentes de nossa arte popular no século XX.
Com sua simplicidade, pureza e sensibilidade, João do Vale é reconhecido como o “Poeta do Povo”, traduzido por inúmeras canções de valor único em nossa história e em nossas memórias da cultura popular. Uma herança cultura incomensurável, e que precisa a todo instante ser rememorada em nós e a partir da divulgação e do conhecimento de sua obra.
Que as asas de suas melodias ecoem nos sertões e rincões deste Brasil tão diverso, plural, com um chão tão fértil e, ao mesmo tempo, tão desigual…
Viva João, viva o Poeta do Povo! Batista do Vale!…
Gratidão! E vamos ao FAC !!!
Jorge Leão – 21 de maio de 2024.